Na correria do dia a dia, entre atender adultos que vivem repetindo “estou sem tempo, qualquer dia eu vejo isso”, às vezes eu esqueço de onde vem o verdadeiro motivo do meu trabalho com educação financeira.
Mas na última quarta-feira, dia 19 de novembro, recebi uma mensagem que me trouxe de volta ao essencial — e me devolveu um brilho no olhar que eu não sentia há tempos.
A mensagem era do Vinícius, um aluno de 11 anos. Sim, 11 anos.
Quando uma criança te ensina o que muitos adultos esqueceram
Esse mesmo Vinícius que eu havia mencionado em outro artigo aqui do blog: o menino que participou de uma aula minha sobre educação financeira, voltou alguns dias depois e disse, orgulhoso:
“Tio, eu convenci meus pais a me darem uma mesada de R$ 50,00 por mês!”
Expliquei para ele sobre valor, planejamento, escolhas conscientes. Ele ouviu tudo com uma atenção que muito adulto não tem — aquela atenção genuína de quem quer aprender, sem pressa, sem resistência, sem aquele “já sei” que bloqueia tantas conversas.
O mais bonito?
Ele já tinha guardado R$ 200,00 que ganho de presente no aniversário, e veio me perguntar com os olhos brilhando:
“Tio, onde eu posso investir esse dinheiro para ele render?”
Conversamos sobre opções simples, seguras, adequadas para a idade dele. Tesouro Selic, CDB de liquidez diária. Ele entendeu. Ele escolheu. Ele começou.
E se comprometeu: R$ 20,00 todo mês, direto do bolso dele, para o futuro dele. Com 11 anos.
A mensagem que me fez parar no tempo
Mas foi a mensagem do dia 19/11 que realmente me tocou fundo.
“Alyxandre, estou muito feliz! Acabei de abrir minha conta e percebi que os duzentos reais que eu coloquei depois de quase um mês já está rendendo. Ele rendeu R$ 1,00.”
Um real.
Imaginei os olhos dele brilhando como se fossem mil reais.
Fiquei parado olhando aquela mensagem, lembrando de quando recebi meus primeiros R$ 0,40 de rendimento lá atrás. A sensação é a mesma, eu sei: é o despertar.
Aquele segundo exato em que você entende que dinheiro cresce. Que tempo importa. Que escolhas têm impacto. Que investir não é para “quem tem muito”, mas para quem começa cedo — ou, pelo menos, começa.
Pesquisas recentes mostram que a educação financeira infantil tem crescido no Brasil, especialmente com a inclusão do tema na Base Nacional Comum Curricular. Dados indicam que iniciativas de educação financeira aumentaram cerca de 72% no país nos últimos cinco anos.
Mas nada disso importaria se eu não tivesse visto com meus próprios olhos a transformação que acontece quando uma criança entende, pela primeira vez, que o dinheiro pode trabalhar por ela.
Ali, lendo aquela mensagem do Vinícius, percebi de novo aquilo que venho tentando mostrar todos os dias:
Educar financeiramente uma criança é possível.
Mais que isso: é transformador.
O contraste que dói (e que precisa ser dito)
Já com adultos…
Bom, aí entra outro capítulo.
A resistência. A pressa. O “depois eu vejo”. O “não quero perder tempo com isso”. O medo de mexer na própria vida. A vergonha de admitir que não sabe. A crença de que “já é tarde demais”.
É difícil plantar sementes em terreno que teima em permanecer igual.
Eu vejo isso todos os dias. Adultos que fogem da conversa sobre dinheiro como se fosse uma doença contagiosa. Que dizem “eu não tenho jeito para isso”, como se lidar com o próprio dinheiro fosse um dom genético que ou você nasce com ele ou está condenado ao caos financeiro.
Mas sabe o que eu descobri depois de anos fazendo esse trabalho?
Não é falta de capacidade. É medo.
Medo de encarar a realidade. Medo de descobrir que gastou décadas no caminho errado. Medo de ter que mudar. Medo de admitir que precisa aprender algo que “deveria” já saber.
E enquanto esse medo paralisa adultos, as crianças simplesmente… fazem.
Por que crianças aprendem o que adultos resistem?
Crianças não têm vergonha de aprender. Crianças não têm medo de recomeçar. Crianças não acham que já sabem tudo. Crianças não dizem “um dia eu vejo isso”. Crianças fazem.
A educação financeira deve começar desde cedo, ainda na idade pré-escolar, quando as crianças começam a entender o valor das coisas e a necessidade das trocas ao seu redor. E quanto mais cedo começamos, mais natural esse conhecimento se torna.
Pensa comigo: quando você ensina uma criança de 6 anos a escovar os dentes, ela não questiona se “já é tarde” ou se “não tem jeito”. Ela simplesmente aprende e incorpora aquilo na rotina. Vira automático. Vira parte de quem ela é.
Com dinheiro, funciona da mesma forma.
Se você ensina uma criança de 8, 10, 11 anos a poupar 20% do que recebe, ela não acha estranho. Ela não se sente privada. Ela simplesmente aprende que é assim que funciona.
Já um adulto de 35 anos que sempre gastou 100% (ou 110%) do que ganha? Ele vai sentir que está sendo torturado quando você sugerir guardar 20%. Porque para ele, aquilo é uma mudança radical. Para a criança, é apenas aprendizado.
O poder silencioso de começar cedo
Deixa eu te contar uma coisa que talvez você não saiba.
Se o Vinícius mantiver esses R$ 200,00 investidos e continuar colocando R$ 20,00 por mês até os 18 anos, com uma rentabilidade média de 10% ao ano (perfeitamente alcançável em renda fixa hoje), ele vai ter aproximadamente R$ 2.700,00 quando chegar à maioridade.
Dois mil e setecentos reais que ele construiu sozinho, aprendendo, errando, acertando, desenvolvendo disciplina.
Mas o valor financeiro é o de menos aqui.
O que ele vai ter de verdade é algo que não tem preço: a certeza de que ele é capaz. A confiança de que dinheiro não é mistério, não é sorte, não é magia. É escolha, disciplina, tempo.
Ele vai chegar aos 18 anos sem medo de dinheiro. Sem aquela ansiedade que paralisa tantos jovens. Sem a crença limitante de que não sabe lidar com dinheiro.
E isso, meus amigos, é um presente que vai impactar toda a vida dele.
O que eu aprendi com um menino de 11 anos
A mensagem do Vinícius me lembrou algo fundamental que eu, às vezes, esqueço no meio de tantas planilhas, consultorias e artigos:
O futuro ainda pode ser diferente.
Eu tenho 52 anos. Sou casado. Minha filha tem 25 anos. Quando eu estava internado durante a pandemia, olhando para o teto daquele quarto de hospital, eu pensei: “É tarde demais para mudar”.
Mas não era.
E se não era tarde para mim aos 50, imagina para uma criança de 11 anos.
O Vinícius está construindo hoje o futuro que eu tive que correr para construir décadas depois. Ele está aprendendo agora o que eu aprendi tarde demais. E sabe o que isso significa?
Significa que vale a pena continuar plantando.
Mesmo quando os adultos dizem “não tenho tempo”. Mesmo quando alguns pais não entendem a importância. Mesmo quando a mudança parece impossível.
Porque para cada 10 adultos que resistem, existe uma criança como o Vinícius, pronta para aprender, crescer, se transformar.
E essa criança, um dia, vai ser um adulto diferente. Um adulto que não tem medo de olhar para a conta bancária. Que não fica ansioso no fim do mês. Que não passa noites em claro preocupado com dívidas.
Um adulto livre.
Como você pode começar a educar financeiramente uma criança hoje
Se você é pai, mãe, tio, tia, avô, avó, professor ou qualquer pessoa que convive com crianças, deixa eu te dar algumas orientações práticas que funcionam de verdade:
Converse sobre dinheiro naturalmente: Não faça disso um tabu. Quando forem ao mercado, explique por que você escolhe um produto em vez de outro. Mostre que existem escolhas e consequências.
Dê mesada ou semanada: Especialistas recomendam começar com mesadas a partir dos 7 anos, quando as crianças já entendem melhor a relação com o dinheiro. Não precisa ser um valor alto. R$ 20,00, R$ 30,00, R$ 50,00 por mês — o que couber no seu orçamento. O importante é que seja regular e que a criança aprenda a administrar.
Ensine a dividir o dinheiro: Uma fórmula simples é gastar 70% com o que quiser e 30% para investir. Isso cria uma consciência financeira.
Abra uma conta de investimento simples: Hoje é muito fácil. A maioria dos bancos digitais permite abrir conta para menores com autorização dos pais. Comece com Tesouro Selic ou CDB com liquidez diária. Deixe a criança acompanhar o saldo crescendo.
Celebre os pequenos ganhos: Quando render R$ 1,00, R$ 5,00, R$ 10,00, comemore junto. Mostre que aquele dinheiro está crescendo sozinho, trabalhando enquanto ela dorme, estuda, brinca.
Seja o exemplo: Crianças aprendem mais pelo que veem do que pelo que ouvem. Se você quer que seu filho tenha uma relação saudável com dinheiro, mostre na prática. Fale sobre suas escolhas financeiras. Deixe eles verem você planejando, poupando, investindo.
O investimento do Vinícius rendeu R$ 1,00 — e me rendeu muito mais
O investimento do Vinícius rendeu R$ 1,00. O dele.
Mas naquele mesmo instante, ele me rendeu algo muito maior: a certeza de que sempre vale a pena continuar plantando.
Porque enquanto eu estiver encontrando crianças como ele — curiosas, abertas, dispostas a aprender — eu sei que o trabalho que faço tem sentido.
Eu poderia estar fazendo qualquer outra coisa. Poderia ter escolhido um caminho mais fácil, com menos resistência, onde as pessoas já estão prontas para ouvir.
Mas não.
Escolhi plantar sementes.
Algumas caem em solo duro, cheio de pedras, e não germinam. São os adultos que resistem, que adiam, que têm medo.
Outras caem em solo fértil, pronto para receber, e florescem de uma forma que nem eu imaginava. São crianças como o Vinícius, que pegam aquela sementinha de conhecimento e transformam em algo lindo, forte, duradouro.
E sabe o que eu descobri?
Vale a pena por causa daquelas que florescem.
Nunca é cedo demais (e quase nunca é tarde demais)
A Semana Nacional de Educação Financeira de 2025 trouxe como tema central a educação financeira para crianças e jovens, reforçando a importância de preparar a nova geração para escolhas conscientes.
Hoje, eu não trabalho apenas para mudar a vida de crianças.
Trabalho para mudar o futuro.
Porque cada criança que aprende sobre educação financeira hoje é um adulto que não vai precisar passar pelo que eu passei. Que não vai ficar internado em um hospital com medo de deixar dívidas para a família.
Que vai poder escolher, respirar, viver — sem o peso constante da ansiedade financeira.
E se você é adulto e está lendo isso pensando “eu nunca tive essa educação, é tarde demais para mim”…
Deixa eu te falar uma coisa: não é.
Você pode começar agora, na idade que tiver. E pode começar não só para você, mas para as crianças ao seu redor.
Seja seu filho, sobrinho, neto, aluno, vizinho.
Plante uma semente hoje. Ensine uma criança sobre dinheiro. Abra uma conversa. Dê uma mesada. Explique como funciona um investimento.
Porque daqui a 10, 20, 30 anos, quando aquela criança estiver vivendo uma vida financeiramente tranquila, ela vai olhar para trás e lembrar: “Foi alguém que acreditou em mim quando eu ainda era criança.”
Um real que vale mais que mil
O Vinícius me mandou aquela mensagem toda animado com R$ 1,00 de rendimento. Eu olhei para aquele R$ 1,00 e vi esperança. Vi futuro. Vi transformação. Vi que ainda vale a pena.
Porque educação financeira não é sobre o dinheiro. Nunca foi. É sobre liberdade. É sobre escolha. É sobre paz. É sobre poder dormir tranquilo sabendo que você tem controle sobre sua vida.
E se um menino de 11 anos consegue entender isso melhor do que muitos adultos de 40… Então sim, ainda vale a pena acreditar. Ainda vale a pena ensinar. Ainda vale a pena plantar.
E você? Já conversou com alguma criança da sua família sobre dinheiro? Já ensinou seu filho a poupar? Compartilhe sua experiência nos comentários — quero muito saber!
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