Recentemente, fiz uma enquete no Instagram com uma pergunta que sempre me intriga: “Qual o maior obstáculo na organização financeira?” As respostas me fizeram parar para pensar — e muito.
50% das pessoas disseram que não têm tempo. 33% não sabem por onde começar. E 17% têm medo de ver a realidade.
Quando li esses números, meu primeiro pensamento foi: “Eu entendo perfeitamente”. Porque já estive exatamente nesse lugar. Aliás, posso dizer com sinceridade que passei boa parte da minha vida adulta nessa mesma situação — dizendo que não tinha tempo, evitando olhar para as contas, adiando conversas sobre dinheiro.
Mas sabe o que aprendi? O verdadeiro obstáculo raramente é o que dizemos que é.
O Tempo Que Falta É o Tempo Que a Desorganização Rouba
Deixa eu ser direto com você: quando dizemos que não temos tempo para organizar as finanças, geralmente estamos dizendo outra coisa. Estamos dizendo que estamos exaustos, sobrecarregados, mentalmente esgotados. E olhar para o dinheiro parece ser apenas mais uma tarefa numa lista que já não cabe no dia.
Eu sei como é acordar pensando nas contas, passar o dia resolvendo mil coisas e chegar em casa sem energia para mais nada. Abrir o extrato bancário? Nem pensar. Fazer planilha? Impossível. Sentar para planejar? Outro dia eu faço.
Só que esse “outro dia” nunca chega.
E enquanto isso, o tempo que dizemos não ter está sendo consumido por algo muito pior: a ansiedade. O estresse de não saber quanto tem na conta. A preocupação constante de que vai faltar dinheiro no fim do mês. A insônia provocada pela dúvida se aquela conta vai ser paga.
É como deixar um guarda-roupa bagunçado por meses. Você sabe que precisa arrumar. Cada vez que abre a porta, bate aquele desconforto. Mas arrumar dá trabalho, então você fecha a porta e toca a vida. Só que toda manhã, na hora de escolher a roupa, você perde tempo procurando, se frustra e sai de casa já estressado.
O descontrole financeiro funciona do mesmo jeito. Você acha que está economizando tempo ao não se organizar, mas na verdade está perdendo paz, sono, foco e, ironicamente, muito mais tempo lidando com as consequências da desorganização.
Por Que Não Sabemos Por Onde Começar
Se você faz parte dos 33% que não sabem por onde começar, preciso te dizer uma coisa: isso não é falta de inteligência. É excesso de informação mal direcionada.
Vivemos numa era em que todo mundo tem uma opinião sobre dinheiro. São dezenas de influenciadores falando sobre investimentos complexos, gurus prometendo fórmulas mágicas, especialistas usando termos que parecem de outro planeta. CDB, Tesouro Direto, CDI, IPCA, fundos multimercado…
E você, que só queria entender para onde está indo seu salário, fica paralisado. Porque parece que organizar as finanças exige ser um expert em economia. Parece que você precisa dominar planilhas complexas, conhecer todos os tipos de investimento, entender de Imposto de Renda.
Mas posso te garantir: organizar suas finanças não tem nada a ver com ser um gênio das finanças. Tem a ver com conhecer três números básicos: quanto entra, quanto sai e quanto sobra (ou falta).
É só isso. Todo o resto vem depois. Muito depois.
O Medo de Ver a Realidade
Agora vamos falar do elefante na sala: os 17% que admitiram ter medo de ver a realidade. E, cá entre nós, suspeito que esse número seja muito maior. Porque é difícil admitir que estamos com medo do próprio dinheiro.
Durante anos, evitei olhar para minhas finanças de verdade. Eu sabia, vagamente, que as coisas não estavam bem. Tinha dívidas que preferia não pensar. Gastava mais do que devia. Mas enquanto eu não olhasse de frente, dava para fingir que estava “mais ou menos”.
Foi só durante a pandemia, quando precisei ser internado, que a ficha caiu. Deitado naquela cama de hospital, comecei a pensar: “E se eu não tivesse voltado para casa? Que situação financeira eu estaria deixando para minha esposa e minha filha?”
A resposta me assustou mais que a própria doença.
Percebi que estava deixando um legado de desorganização. De dívidas. De contas espalhadas. E pior: estava roubando de mim mesmo anos de tranquilidade por simplesmente não ter coragem de encarar uns números numa tela.
Aqui vai uma verdade libertadora: a realidade não piora porque você olha para ela. Ela piora porque você não olha.
Começar Não Precisa Ser Complicado
Vou te contar exatamente como eu recomeçei. E pode acreditar: foi muito mais simples do que eu imaginava.
1. Comece com 10 minutos por semana
Não precisa ser um sábado inteiro. Não precisa ser todo dia. Escolha um momento da semana — pode ser domingo de manhã, pode ser quinta à noite — e reserve apenas 10 minutos.
No primeiro dia, use esses 10 minutos apenas para olhar. Abra o extrato bancário. Veja o que entrou e o que saiu. Não precisa anotar nada ainda. Não precisa fazer conta. Só olhe. Respire. Reconheça que aqueles números são reais e que você é capaz de lidar com eles.
2. Anote no papel, se for mais fácil
Esqueça planilhas sofisticadas. Esqueça aplicativos cheios de funções. Se você nunca se organizou, comece do jeito mais simples possível: papel e caneta.
Pegue uma folha qualquer. Faça três colunas: “Descrição da despesa”, “Entra” e “Sai”. Ponto. Anote quanto você recebe por mês. Anote suas despesas principais: aluguel, luz, água, mercado, transporte.
Não precisa ser perfeito. Não precisa ter todas as categorias do mundo. Pode ser feio. O importante é começar.
3. Escolha UM objetivo pequeno
Não tente resolver tudo de uma vez. Não tente quitar todas as dívidas, montar uma reserva de emergência, começar a investir e controlar cada centavo ao mesmo tempo. Isso é receita para desistir na primeira semana.
Escolha uma coisa. Uma só. Pode ser:
- “Vou juntar R$ 100,00 este mês”
- “Vou descobrir exatamente quanto gasto com delivery”
- “Vou negociar uma dívida que está me tirando o sono”
Um objetivo. Pequeno. Alcançável. E quando você conseguir, vai sentir algo que talvez não sinta há tempos: orgulho de si mesmo.
4. Perdoe-se pelo passado
Escuta: você não está nessa situação porque é incompetente, irresponsável ou burro. Está porque a vida acontece. Porque ninguém nos ensina sobre dinheiro na escola. Porque imprevistos aparecem. Porque às vezes cometemos erros.
E está tudo bem.
O passado financeiro não define você. O que define é o que você faz a partir de agora.
Eu desperdicei dinheiro durante anos. Tomei decisões que, olhando hoje, foram terríveis. Mas eu aprendi. E estou construindo algo melhor. E você também pode.
Quando a Resistência Aparece (E Ela Vai Aparecer)
Nos primeiros dias, você vai sentir vontade de desistir. Vai parecer chato. Vai parecer que não está funcionando. Vai parecer mais fácil voltar para o velho hábito de evitar o assunto.
Essa resistência é normal. Ela não significa que você está falhando. Significa que você está mudando — e mudança dói um pouco no começo.
Quando isso acontecer, lembre-se do motivo real pelo qual você está fazendo isso. Não é para ser perfeito. Não é para impressionar ninguém. É para dormir melhor à noite. É para parar de sentir aquele aperto no peito quando pensa em dinheiro. É para ter a liberdade de fazer escolhas sem medo.
É para você mesmo.
O Que Realmente Muda Quando Você Se Organiza
Depois que comecei a me organizar — de verdade, não só dizendo que ia fazer —, algumas coisas mudaram na minha vida. E não foram mudanças financeiras, pelo menos não no início.
Primeiro, eu passei a dormir melhor. Parece bobagem, mas quando você sabe exatamente onde está, mesmo que não seja no lugar ideal, a ansiedade diminui. Você troca o medo do desconhecido pela clareza do real.
Segundo, melhoraram minhas conversas em casa. Antes, eu não dividia nada com minha esposa. Ficava sofrendo sozinho, carregando o peso das preocupações financeiras como se fosse só meu problema. Achava que estava “protegendo” ela, mas na verdade estava apenas me isolando e deixando a ansiedade crescer. Hoje é completamente diferente. Conversamos sobre tudo: desde o planejamento do mês até as opções de investimento que estamos considerando. Falamos com transparência, com números claros, e principalmente, em time.
Terceiro, voltei a ter objetivos. Quando você não controla o dinheiro, para de sonhar. Para de planejar. Porque parece que nunca vai dar certo mesmo. Mas quando você organiza, por mais simples que seja, volta a acreditar que pode realizar coisas.
E isso, meu amigo, isso não tem preço.
Você Não Precisa Fazer Isso Sozinho
Uma das coisas que mais me ajudou foi entender que não precisava descobrir tudo sozinho. Li artigos simples (não aqueles cheios de termos técnicos). Assisti vídeos curtos no YouTube. Fiz perguntas “bobas” sem vergonha.
Hoje, é exatamente por isso que escrevo aqui no blog. Porque sei que tem gente se sentindo do jeito que eu me sentia. Travada. Cansada. Com medo. Achando que nunca vai conseguir.
E eu quero dizer para você: vai conseguir sim. Não do dia para a noite. Não sem esforço. Mas vai.
Comece Hoje, Não Amanhã
Sabe qual é o melhor dia para começar a se organizar financeiramente? Hoje. Agora. Este momento.
Não segunda-feira. Não no começo do mês. Não quando você tiver mais tempo. Porque esse momento perfeito nunca vai chegar.
Mas este momento, agora, é possível. Você tem 10 minutos? Tem papel e caneta? Então tem tudo que precisa para o primeiro passo.
E o primeiro passo não precisa ser gigante. Pode ser minúsculo. Pode ser simplesmente abrir o extrato e olhar. Pode ser anotar um número. Pode ser decidir que vai tentar.
Porque a diferença entre quem fica preso e quem avança não está no tamanho do passo. Está em dar o passo.
Reflexão Final
Não é o tempo que falta. Não é o conhecimento que falta. O que falta é a decisão de encarar, com honestidade e autocompaixão, o que está acontecendo com seu dinheiro.
E quando você finalmente encara — sem culpa, sem julgamento, só com a intenção genuína de melhorar —, algo muda por dentro. Você deixa de ser vítima das circunstâncias e passa a ser protagonista da sua história financeira.
Aos 52 anos, posso te dizer com certeza: não há idade errada para começar. Não há situação tão complicada que não possa ser simplificada. Não há passado tão bagunçado que impeça um futuro organizado.
Basta começar.
O que mais te impede de se organizar financeiramente hoje? Conta pra mim nos comentários. E se você conhece alguém que vive dizendo que não tem tempo para cuidar do dinheiro, compartilhe este artigo com ela.